Grupos de direitos humanos condenam envio de bombas de fragmentação para Ucrânia

Pentágono anunciou um novo pacote de ajuda militar de 800 milhões de dólares para a Ucrânia, que inclui munições de fragmentação. A sua utilização “contribuirá para as terríveis baixas sofridas por civis ucranianos imediatamente e nos próximos anos”.

Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Joe Biden assumiu que os Estados Unidos reconhecem que “as munições de fragmentação criam um risco de danos civis causados por munições não detonadas”.

“É por isso que adiamos a decisão o máximo que pudemos. Mas também há um risco enorme de danos civis se tropas e tanques russos passarem por posições ucranianas e tomarem mais território ucraniano e subjugarem mais civis ucranianos porque a Ucrânia não tem artilharia suficiente”, acrescentou.

Em entrevista ao apresentador da CNN, Fareed Zakaria, na sexta-feira, o presidente Joe Biden afirmou que a sua decisão de fornecer munições de fragmentação à Ucrânia foi uma “decisão difícil”.

“Foi uma decisão muito difícil da minha parte. E, a propósito, discuti isso com os nossos aliados, discuti isso com os nossos amigos no Hill”, frisou Biden.

Ucrânia saúda envio de munições de fragmentação

Mykhailo Podolyak, conselheiro sénior do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, frisou que o resultado do conflito iniciado por Moscovo depende diretamente do volume de armas que Kiev receber: “Na grande guerra sangrenta que já dura mais de 16 meses e que predeterminará o futuro do mundo… o número de armas é importante. Então, armas, mais armas e mais armas, incluindo munições de fragmentação”, afirmou Podolyak na sexta-feira.

Anteriormente, conselheiro sénior de Zelenskiy acusou a Human Rights Watch (HRW) de “cobardia”, “mesquinhez” e “imoralidade absoluta” depois de divulgar um relatório acusando Kiev e Moscovo de usar bombas de fragmentação que mataram civis.

O presidente da Ucrânia descreveu o pacote de ajuda como “defesa oportuna, ampla e muito necessária” e agradeceu a Biden por “medidas decisivas que aproximam a Ucrânia da vitória sobre o inimigo”. “A expansão das capacidades de defesa da Ucrânia fornecerá novas ferramentas para a desocupação da nossa terra e para aproximar a paz”, escreveu.

Biden sob fortes críticas

Num relatório divulgado na quinta-feira, a Human Rights Watch revela que as forças ucranianas e russas usaram munições de fragmentação que causaram inúmeras mortes de civis e ferimentos graves. A organização pediu a ambos os países que parem imediatamente de usar estas armas e exortou os EUA a não fornecê-las.

“As munições de fragmentação utilizadas pela Rússia e pela Ucrânia estão a matar civis agora e continuarão a fazê-lo por muitos anos”, disse Mary Wareham, diretora interina da Human Rights Watch.

“Ambos os lados devem parar de usá-las imediatamente e não tentar obter mais dessas armas indiscriminadas”, continuou.

De acordo com a organização não governamental, a utilização “de munições de fragmentação em áreas com civis torna um ataque indiscriminado em violação da lei humanitária internacional e possivelmente um crime de guerra”.

Paul Hannon, vice-presidente da Campanha Internacional para Proibir Minas Terrestres e Conselho de Governança da Coligação de Munições de Fragmentação afirmou que “a decisão do governo Biden de transferir munições de fragmentação contribuirá para as terríveis baixas sofridas por civis ucranianos imediatamente e nos próximos anos”.

“A utilização de munições fragmentação pela Rússia e pela Ucrânia está a aumentar a já massiva contaminação da Ucrânia por restos de explosivos e minas terrestres”, alertou.

As críticas também surgem dentro do próprio partido democrata. A congressista Ilhan Omar, que co-liderará uma emenda à Lei de Autorização de Defesa Nacional que proíbe a venda de munições de fragmentação, foi perentória: “Temos que ser claros: se os EUA vão ser um líder em direitos humanos internacionais, não devemos participar de abusos de direitos humanos. Podemos apoiar o povo da Ucrânia na sua luta pela liberdade, ao mesmo tempo em que nos opomos às violações do direito internacional. Na verdade, as vítimas inocentes das munições de fragmentação serão quase exclusivamente civis ucranianos. Em vez de lidar com munições de fragmentação, deveríamos estar a fazer tudo ao nosso alcance para acabar com a sua utilização”.

A congressista Betty McCollum, do Minnesota, descreveu a medida como “desnecessária e um erro terrível”, acrescentando: “Essas armas devem ser eliminadas dos nossos armazéns, não despejadas na Ucrânia”.

Rússia, Ucrânia e EUA recusaram-se a assinar acordo sobre munições de fragmentação

As munições de fragmentação normalmente libertam um grande número de pequenas bombas que podem matar indiscriminadamente numa ampla área, ameaçando civis. As bombas são projetadas para detonar ao atingir o solo, mas nem sempre explodem, representando um risco para os civis durante largos anos.

Estas munições, usadas pela primeira vez na Segunda Guerra Mundial, foram proibidas por mais de 120 nações sob a Convenção sobre Munições de Fragmentação em 2008. Rússia, Ucrânia e Estados Unidos recusaram-se a assinar o tratado.